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Tapioca carregada de história e gosto do sertão

Quem passa na rota para o litoral sul no município de Nísia Floresta, na Grande Natal, pode não imaginar, mas um estabelecimento que existe há 60 anos, na estrada de acesso à praia de Tabatinga, guarda histórias e recordações do modo de vida sertanejo que atravessa gerações. Com quase 60 anos de atuação, a Casa da Tapioca possibilita experiências únicas aos turistas e frequentadores da região.

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Ao passar pelo beco de acesso ao estabelecimento, o visitante já vive a sensação de voltar o tempo. O cenário de terra batida, com frases espalhadas que refletem o bom humor nordestino, uma casa de taipa ao fundo, cobertura de palhas, com produtos típicos cozinhados no forno de pedra a lenha, ao som de clássicos de Luiz Gonzaga e outros mestres da cultura popular refletem a fórmula do sucesso no empreendedorismo que mantém viva a história de uma família em especial e de tantas outras que diariamente por ali passam.

Todas as tardes, sempre à mesma hora,
vem visitar-me um passarinho amigo...
canta cantigas que eu cantava outrora,
canta coisas que eu sinto, mas não digo.

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De onde ele vem, não sei; nem onde mora;
se lembranças me traz, guarda-as consigo.
Sinto, no entanto, quando vai-se embora,
que a minha alma não quer ficar comigo.

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Hoje tardou... Há chuva nos caminhos,
mas chuva não faz mal aos passarinhos
e ele há de vir, a tarde festejando...

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Lá vem ele, ligeiro como um sonho...
canta cousas tão minhas, que eu suponho
ser o meu coração que vem cantando.

Palmira Wabderley

Cozinha da Casa da Tapioca guarda história e o sabor sertanejo (Foto: Ney Douglas)

Josefa Rafaela, bisneta da fundadora da Casa Da Tapioca (Foto: Ney Douglas)

“Tudo começou com a minha bisavó Maria Carneiro, aos 12 anos, na década de 1940, ela produzia e vendia o grude e a tapioca nas feiras de São José de MIpibu, Parnamirim, Nísia Floresta e saia daqui a pé ou a cavalo. Depois disso, em 1949, aqui na frente ela construiu a casinha de taipa, registrada na foto que fica aqui no oratório, Assim foi construindo o espaço que estamos hoje e lá atrás a nossa área de fabricação”, explicou a jovem Josefa Rafaela, bisneta de dona Maria, que gerencia a Casa com os tios, primos, irmãos.

E se depender do amor e empolgação de Rafaela e seus primos, a Casa da Tapioca vai se perpetuar na família. “Eu pretendo tocar em frente por muito tempo, é uma fórmula que tem tudo para dá certo, uma experiência próxima e agradável com o cliente, algo que não se vê muito aqui no RN. Até estrangeiros estão chegando aqui, tenho até que fazer umas aulas de inglês”, diz sorridente.

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Linaldo da Silva, tio de Rafaela e um dos administradores do estabelecimento, conta que em dias de maior movimento mais de 500 tapiocas são vendidas. “O trabalho aqui começa de 4h30- 5h para colocar a lenha no forno, depois começa produção da massa da tapioca, do grude e dos bolos, mantendo os aspectos peculiares da cultura sertaneja”, explicou Linaldo.

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Solange da Silva, neta de Dona Maria e uma das responsáveis por botar ordem na cozinha diz que o segredo da Casa é simples. “O segredo é o forno e feito com muito amor. Lembrando dos ensinamentos que a vovó nos deixou, somos felizes com o trabalho que fazemos e a família toda reunida”, finalizou.

Hoje com 18 anos, Rafaela, segundo ela mesma diz, “nasceu praticamente dentro do forno”. Desde os 13 anos, ajuda na equipe de cerca de 20 familiares e “agregados” para a produção da tapioca e bejus, os carros chefes do estabelecimento, que nos últimos anos também ampliou o mix de produtos para bolos, cocadas, pé-de-moleque, caldo de cana, mas como ela mesmo reforça, sem perder a tradição.

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“Não servimos tapioca recheada, a produção segue a tradição do forno de pedra na goma e no côco. No inicio recebíamos um público pequeno, eram mais bugueiros, guias e no boca a boca nos tornamos uma referência pra todos que passam na estrada de Tabatinga. Aqui valorizamos o contato direto, visitam nossa cozinha, fazem seus pedidos. Época de maior movimento é no veraneio, em que abrimos todos os dias, em outras épocas só de quinta a domingo. As filas chegam lá fora”, ressaltou a jovem.

Massa é preparada seguindo receita da família (Foto: Ney Douglas) 

Recordações e experiências

Recordar a tradição familiar de se reunir ao redor da mesa para comer tapioca e beju, que o pai trazia da feira, é o que motiva o funcionário público Leonardo Almeida a frequentar a Casa da Tapioca no caminho para a praia de Barreta.

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“O que mais agrada é a forma simples, sem cerimônias que cria essa proximidade, como vivíamos antigamente nas nossas famílias no interior do estado, remonta nossas tradições. Lá em casa tínhamos o hábito de todo domingo papai ir à feira e comprar o grude, o beju e toda família se reunir em torno da mesa. O tempo foi passando, ficamos adultos, cada um casou e o costume se perdeu, mas cada vez que viemos aqui resgatamos esse bom tempo”, contou Leonardo que estava acompanhado da esposa Lilian Almeida.

Rosana (à esq.) e Rosângela Neves, turistas que sempre visitam a Casa da Tapioca (Foto: Ney Douglas)

Para quem vem de longe, como as irmãs paulistas Rosana e Rosângela Neves, a experiência vivenciada no estabelecimento é levada na bagagem de volta pra casa.

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“Nossa mãe mora em Natal e tem uma casa aqui em Tabatinga, então todo ano pelo menos uma vez estamos aqui. A Casa da Tapioca é um paraíso, que não encontro em nenhum lugar do país. Já trouxe familiares e recomendo a todos, experiência que levamos quando voltamos pra nossa vida cotidiana. A forma como os alimentos são preparados aqui é algo fenomenal”, explicou Rosana, enquanto saboreava a culinária artesanal.

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