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Zoada de Bilro

As mulheres rendeiras fazem parte da cultura popular no Rio Grande do Norte e encontram na Vila de Ponta Negra abrigo para manter viva a tradição, que se tornou também produto de turismo experiencial com a Zoada de Bilro.

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O nome do projeto vem do pequeno instrumento de madeira utilizado pelas rendeiras e que se entrelaçam fazendo uma música característica para a costura artesanal. A renda de bilro é um dos principais patrimônios de Natal.

Renata Denis explica trandição das rendeiras da Vila (Foto: Ney Douglas)

Osvaldo Oliveira artista da Vila das Artes e empreendedor da pizzaria Rupestre (Foto: Ney Douglas)

Artista plástico e aquarelista há aproximadamente 30 anos, com experiências e obras espalhadas em várias partes do mundo, Osvaldo Oliveira é um apaixonado pela Vila de Ponta Negra, onde fixou residência a mais de duas décadas. Ele abriu sua casa, um ambiente com jardim habitável por pássaros com belezas e cantos, exposição de artes, decoração rupestre atrelando sua vivência ao encanto criativo do bairro.

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“Nossa ideia é trazer um pouco da vida aqui do bairro para o nosso convívio com os grupos, a fim de desmitificar a imagem negativa que alguns têm da própria vila, mostrando que é um importante po-

Vila das Artes

Encantos criativos e vivências turísticas

Destino consolidado no turismo de sol e mar, Natal possui, em seus bairros, potencial turístico e histórico latente e resguardado pela cultura de tradição tão importante para produção de experiências e emoções e que é ávido para ser valorizado e desfrutado pelo fluxo turístico da região.

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Apostando na originalidade e transformação das práticas criativas locais em produtos sustentáveis e de geração de experiências únicas para diversificação e desenvolvimento regional, o Sebrae-RN em parceria com a Prefeitura de Natal e o Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano (IADH) desenvolve há pouco mais de um ano o projeto Natal Encantos Criativos, identificando nos bairros das Rocas e Vila de Ponta Negra, redutos da cultura e arte tipicamente natalense, práticas criativas com aptidão para tornarem-se produtos de turismo de experiência.

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“Esse trabalho iniciou com uma pesquisa para identificar quais eram os bairros de Natal com maior potencial cultural e chegamos a Rocas e Ponta Negra. Passamos, então, a uma fase de trabalho de desenvolvimento humano em parceria com o IADH; após consultoria, identificamos os potenciais e realizamos um trabalho de liderança, governança e empoderamento desses empreendedores, com o objetivo final de transformar o que já existia lá em negócios. Como resultado, obtivemos oito produtos turísticos de experiência”, explicou Marília Aranha, analista do Sebrae-RN e coordenadora do projeto Natal Encantos Criativos.

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O bairro das Rocas, que preserva as raízes do samba e da cultura afrobrasileira, desenvolveu dois produtos turísticos, o “Axé das Rocas” e o “Malandros te recebe”, a partir da história e vivências dos projetos Axé Obá e a escola Malandros do Samba, respectivamente. Na Vila de Ponta Negra, um verdadeiro “caldeirão cultural” da capital potiguar, foram desenvolvidos seis produtos que valorizam as rendas, atrativos naturais, artes plásticas e histórias de nativos.

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“Este ano, provemos e divulgamos esse roteiro de vivências turísticas, chamamo-lo de Natal Encantos Criativos. Cada negócio criou seu próprio nome, de acordo com suas habilidades, em um trabalho em conjunto. Eles transformaram a criatividade em produto turístico. O trabalho desenvolvido pelo Sebrae e parceiros deu nova roupagem a cada produto, ampliando as oportunidades de geração de renda e desenvolvimento local”, detalhou Marília.

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A coordenadora também destacou que o projeto, além de resultados e produtos, reflete processos humanos apontando para mudanças de paradigmas e uma nova forma de pensar a economia regional. “Investimos no intangível, em que todos saem ganhando. O turismo de base local permuta experiências que desafiam o visitante a conhecer melhor as práticas e simbologias dos territórios urbanos”, apontou Marilia Aranha.

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O trabalho de divulgação nas principais feiras e eventos do segmento turístico do Nordeste nos últimos meses gerou também um catálogo bilingue com informações dos encantos criativos e das vivências locais, que serão utilizadas nos contatos com agências e empresas da trade turística para promoção e comercialização dos produtos.

Debruçada no templo das lembranças, a Vila se veste de um luzeiro de conchas, contos, encantos e contas, janela que se abre ao horizonte do outeiro de areia, que alvissareiro lhe empresta o ritual praticado, pulsar da vida que não morre na imorredoura lida.

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Rendas tecidas por mãos calejadas, rostos sulcados remendando as redes, pandas velas que navegam no ver desse mar deslizando as jangadas.
Pandeiros surdos no coco embolado nas cantigas de roda os folguedos entoados, imagens que se soltam nas esquinas…

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Mariscar dos sargaços colhem as mangabeiras, a sonhar com o pescado na prenhez das nuvens.
Franzir de babados nas marés de espuma, e o vento te canta e te versa comungando as rimas nas canções praieiras.
Vila de Ponta Negra, aventurar dos instantes de quem te olhar!

Deth Haak

Renda do bilro é um dos patrimônios da cultura potiguar (Foto: Ney Douglas)

Vila Criativa: encantos além do mar

Localizada nas proximidades do principal cartão postal da capital potiguar, o Morro do Careca e as ruas estreitas da Vila de Ponta Negra são caminhos de experiências das mais genuínas manifestações culturais e artísticas urbanas.

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Thays Emanuelle Beretta, empresária paulista, mas que há sete anos se encantou pela Vila, casou com pescador nativo e hoje é responsável pela comercialização do novo roteiro turístico experiencial, narra que os grupos de turistas e natalenses têm muito a conhecer no bairro, que muitas vezes é retratado apenas em casos de violência e tráfico de drogas, mas pulsa nas paredes e no seu povo uma rica cultura e identidade.

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“O turista tem a oportunidade de realizar as vivências dos produtos turísticos do polo cultural da Vila e ver que é um bairro totalmente diferente do que alguns podem pensar. O roteiro proporciona ao público passar pela produção aquarelista, vivenciar a zoada do bilro e sari com a sua peça de renda, pintar a própria camiseta, produzir a bonequinha, fazer um passeio turístico e histórico de jangalancha, guardando essas experiências enriquecedoras e singulares da sua imersão na Vila de Ponta Negra”, explicou a empresária.

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O PORTAL NO AR esteve imerso nessa experiência e vamos relatá-la a partir de agora em entrevistas, fotos e vídeo.

lo da cultura, da qualidade de vida. Estamos entusiasmados com a criação desse roteiro turístico cultural, que dá a oportunidade aos turistas e próprios natalenses de adentrarem a vila para conhecer a forma como se vive, o que é desenvolvido aqui”, afirmou Osvaldo.

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O espaço proporciona uma experiência sensorial pelo mundo do desenho e da pintura com o artista na intimidade de seu jardim-atelier, além de uma oficina que desperta os talentos potenciais de cada um. Empreendendo também na gastronomia, sua outra paixão, Oliveira utiliza o espaço artístico à noite para dar lugar à pizzaria Rupestre.

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“Ao final da vivência desenvolvemos também uma atividade gastronômica, algo que eu já praticava e tornei um atrativo a mais aqui na vila. Temos muita convivência com turistas e estrangeiros, e sentimos que as pessoas que vêm de fora possuem curiosidade não só pelas belezas naturais, mas para conhecer as pessoas do local, a cultura, a identidade local. Essa é uma tendência mundial das pessoas que querem algo a mais das suas viagens, experiências sensoriais”, destacou o artista.

“O espaço vem com o objetivo de trazer arte e cultura para a comunidade. Aqui temos o núcleo das rendeiras, uma biblioteca para a comunidade, as pessoas vêm pegar livros, deixam outros. Valorizamos a decoração com a história do bairro e dos mestres da vila”, salientou Renata Denis, uma das responsáveis pela Zoada.

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A experiência aproxima o visitante das rendeiras por meio de uma oficina demonstrativa de técnicas e elementos das rendas. “Aqui ensinamos os pontos básicos. A renda de bilro é uma tradição vinda dos portugueses e que se tornou identidade nordestina”, explicou Renata, enquanto mostrava aos visitantes os segredos e concentração que exige as rendas.

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Aliada à prática, o espaço funciona em um dos locais mais visitados da Vila, a “Tapiocaria da Vó”, que mantém a culinária nativa no cardápio. “É uma oportunidade única, relatam os turistas quando nos visitam”, explicou Renata.

Bonequeiras da Vila

A cultura afrobrasileira também encontra seu lugar entre os encantos criativos natalenses, as mulheres bonequeiras da Vila são exemplo de tradição e reinvenção. Em uma mistura de passado e presente, durante uma oficina de bonecas feitas de nós (Abayomis), relatam histórias do bairro e a saga de resistência e preciosismo de mulheres escravas africanas em sua travessia para o Brasil. A cada amarração, uma demonstração de amor. Tudo são memórias transformadas em arte.

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“Realizamos oficinas de confecção das bonequinhas de nó, que reportam toda uma história africana do tempo da escravidão no Brasil, em que as negras vinham nos navios

Ledalicia Sodré exibe as bonequinhas abayomi feitas na Vila

(Foto: Ney Douglas)

só com a roupa do corpo e durante a viagem vinham rasgando o tecido e faziam as bonecas para amenizar o sofrimento das crianças. Cada nozinho tinha uma intenção de prosperidade, de bons sentimentos, o que fez com que se tornasse um objeto de sorte e de resistência das mulheres. Resgate dos nossos antepassados”, afirmou Ledalicia Sodré, uma das bonequeiras.

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Os visitantes são motivados a confeccionar as bonecas sob orientação dos artistas e ao final levam de recordação. “As bonequinhas são produzidas para vários acessórios, como chaveirinhos, colar, árvore de natal”, reforçou Sodré.

Atelier com Lídia Quaresma

Aquarelista Lídia Quaresma compartilha a pintura e a arte do seu atelier (Foto: Ney Douglas)

Aquarelista Lídia Quaresma compartilha a pintura e a arte do seu atelier (Foto: Ney Douglas)

Situado ao lado das Bonequeiras da Vila, o atelier da aquarelista carioca Lídia Quaresma, que atua há mais de 40 anos com pintura e é uma das ilustres moradoras do bairro, possibilita aos seus visitantes um universo de emoções a partir da liberdade da imaginação e do desejo de criar.

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“Aos 18 anos eu já ensinava arte, mas em certo tempo não estava conseguindo conciliar o ensino com a demanda de trabalho do atelier. Quando surgiu a oportunidade do Natal Encantos Criativos, vi que poderia realizar esse desejo, de voltar a ministrar aula e desenvolver um produto turístico e de arte, com essa ação pioneira e que tem tudo para crescer”, ressaltou Quaresma.

“Eu sou até tímida para contar minha história e ter essa interação mais direta, mas com o projeto tenho desenvolvido uma experiência muito especial com os grupos que visitam. Consegui atingir meu objetivo de é provar que qualquer pessoa pode pintar e fazer sua arte, liberando as amarras e o potencial criativo que carrega dentro de si. Após esse contato e troca de experiências, ao final cada material produzido, o visitante leva seu próprio trabalho com a sua identidade e a vivência local”, explicou.

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As pinturas nas camisetas retratam ícones da Vila de Ponta Negra, jangadas, frutas, peixes, mar. “É uma recordação para toda a vida”, concluiu Lídia.

A aquarelista conversa sobre inspirações e processos criativos ensinando o visitante a personalizar uma peça de vestuário com suas próprias mãos.

Jangada Show e Cores da Vila

Thays Emanuelle responsável pela Jangada Show e o projeto Natal Encantos Criativos (Foto: Ney Douglas)

Thays Emanuele Beretta, além de responsável pelos pacotes do Natal Encantos Criativos, também apresenta seu produto, a Jangada Show. Tudo começou há sete anos, quando ela saiu de São Paulo e, em Natal, conheceu e casou-se com o pescador da vila de Ponta Negra, Robson Silva. Decidiram empreender a partir da utilização da embarcação tipicamente nordestina, a jangada, dando um “upgrade” natalense, adaptando um motor e tornando-a uma jangalancha.

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“Com o projeto nós demos uma nova roupagem ao produto, incrementando com a história da praia e do Morro do Careca, da área de preservação restrita que fica atrás, além de lendas e histórias de pescadores da região”, reforçou Thays.

A vivência pode contar com alguns “convidados” de honra, como golfinhos e tartarugas que habitam o local. Navegando por cenários cinematográficos, os visitantes quase “tocam no Morro do Careca”, além de apreciar dunas, rochas e o mar cristalino da região.

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O tour vivencial também contempla uma experiência de cores e arte urbana com uso de grafites e tintas nos muros da Vila de Ponta Negra, o Cores da Vila. Os visitantes passeiam por praças e ruas típicas, conhecendo a identidade local através das ilustrações feitas por crianças da comunidade e conversas com moradores que representam a essência do bairro. A atividade termina com visita ao Espaço Berimbau, onde os turistas podem conhecer os produtos da artista Nathy Passos e degustar suas iguarias caseiras.

Rocas Criativa

Dentro do roteiro do Natal Encantos Criativos, o bairro das Rocas, na zona leste de Natal, oferece duas vivências turísticas baseadas na cultura raiz da localidade com forte influência musical.

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O Axé das Rocas, desenvolvida dentro do grupo Axé Obá, propicia a experiência da cultura afro-brasileira no coração do bairro das Rocas. Da capoeira ao coco, do maculelê ao samba de roda, do afoxé ao samba reggae.

 

A escola de samba Malandros do Samba, multicampeã do Carnaval de Natal, também integra o roteiro com o “Malandros te recebe”. O visitante embarca na história da agremiação, conhecendo detalhes de seu cotidiano e participando de oficinas de passista, quando se juntam aos integrantes da Escola para uma autêntica folia carnavalesca.

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