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25/05/2015

Ventos e sol ativam desenvolvimento energético das indústrias

Em abril deste ano, o Rio Grande do Norte ultrapassou a marca de dois gigawatts (GW) de energia gerada a partir de uma matriz renovável, a energia eólica. Com o índice, o estado reafirma o potencial de geração de energia através dos ventos, liderando o ranking do segmento no país, ultrapassando os estados do Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul e países europeus, como Grécia, Bélgica e Noruega.

 

Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), com dados de novembro de 2014, o RN possui 73 parques instalados e outros 88 em construção, que somam investimentos superiores a R$ 4,5 bilhões.

 

Neste cenário, é comprovado que o Rio Grande do Norte tem um grande potencial na geração de energia eólica. Outra energia alternativa que aos poucos ocupa um lugar de destaque no RN é a energia fotovoltaica, popularmente conhecida como energia solar. Algumas indústrias do estado e residências dos potiguares estão adotando a produção própria, através da instalação de placas solares, gerando energia pela luz do sol.

 

Porém, alguns entraves interrompem o crescimento acelerado da atividade, em tempos de racionamento de energia e ajustes nas taxas de impostos do setor elétrico do Brasil. O conselheiro da Abeeólica e presidente do Comitê de Energia Renovável e Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Sérgio Azevedo, comentou sobre o cenário atual da energia e o papel das fontes alternativas.

Sérgio Azevedo ressalta que energias renováveis têm futuro promissor para o RN (Foto: Wellington Rocha)

Como as energias eólica e solar se comportam no atual cenário de crise hídrica e, consequentemente, de energia?

 

O mercado brasileiro está carente de energia, não existe espaço para as grandes hidrelétricas. A energia de reserva que o Brasil tem hoje e que está suprindo a demanda excedente é basicamente pelas térmicas, queimando gás e óleo diesel, com um custo caríssimo.

 

A única coisa que nos resta no Brasil, algo que o Rio Grande do Norte tem vocação, é usar a energia solar e eólica de forma sustentável, ou seja, não ter toda a matriz energética do país baseado em uma só. Existe um limite para adotar a energia eólica ou solar na matriz energética do país, e esse

limite, o Brasil está muito longe de alcançar, a energia eólica pode crescer dez vezes do que tem hoje e ainda não atinge esse limite prudencial de comprometimento do setor.

 

Em reunião com o ministro de Minas e Energia, foi afirmado que existe um planejamento de complementar a energia térmica, que faz parte da energia de reserva, por energia eólica e solar, que já está acontecendo.

 

E como o Rio Grande do Norte pode ser ator nessa geração de energia alternativa?

 

Eu enxergo um futuro promissor para o estado, desde que o Governo Federal cumpra uma promessa antiga de implantar as linhas de transmissão estruturantes. Só produzir energia e não ter como transmitir para o resto do país não pode, essa energia precisa ser exportada, sendo consumida nas outras unidades federativas.

 

A forma de contratar do Governo Federal mudou, até 2013, o empreendedor era obrigado a fazer a unidade de geração, o parque, e o governo federal construía uma Instalação Compartilhada de geração (ICG), para atender aquele parque.

 

Um exemplo: cadastrava no leilão dois mil projetos e o Governo não sabia qual projeto sairia vencedor, após tomar conhecimento da localização de cada empreendimento vencedor, corria contra o tempo para fazer a linha de transmissão daquele parque. Acabou

Investimentos em energia eólica ultrapassaram marca de R$ 4,5 bilhões no Estado (Foto: Wellington Rocha)

acontecendo que o tempo de se executar o parque eólico não bateu com o tempo de se executar a linha, o parque ficou pronto primeiro que a linha. Dessa forma, o governo teve que pagar a energia que não era consumida.

 

Depois de 2013, a regra mudou. É de responsabilidade do empreendedor, entregar a energia em algum ponto que tenha disponibilidade e o governo coloca uma subestação em municípios. O Governo Federal fez um planejamento para os próximos 10, 15 anos, apontando em que ano vai disponibilizar pontos de conexão.

 

Existe um caminho pela frente que precisa ser policiado para ter certeza que o Governo vai executar as linhas estruturantes. Na prática, se eu for construir um parque agora para entregar energia em cinco anos, vou ligar o parque em algum ponto desse que o Governo disse que vai construir. Mas se não, o problema não é do Governo, é do empreendedor, e é isso que faz com que o Rio Grande do Norte não esteja sendo competitivo, porque o empresário não está acreditando que essas linhas de transmissões vão ficar prontas.

 

Qual a análise que o senhor faz sobre a energia solar?

 

O que está acontecendo com a energia solar hoje é o que estava acontecendo com a energia eólica há um tempo. A energia eólica era uma energia com equipamentos caros, rendimento dos equipamentos era pequeno, mas com o passar do tempo, com o incentivo da cadeia eólica do Brasil, começou a surgir equipamentos mais baratos e com a capacidade de geração de energia maior, isso faz com que o retorno da implantação seja melhor. É o que está acontecendo com a energia solar, há dois, três meses, não se conseguia vender um megawatt (MW) de energia solar por menos de R$ 400, agora já se vende por R$ 220, e a tendência é que barateie cada vez mais.

 

Como o produto pode ajudar o país?

 

Tanto a solar como a eólica tem uma condição de colocar projeto em pé, mais rápido do que qualquer outra fonte. Construir uma hidrelétrica demora cerca de cinco anos, e não é mais viável, a velocidade da implantação de projetos eólicos é um fator de relevância, significativa para suprir essa energia emergencial que o Brasil está precisando agora.

 

Todo o nosso potencial é realmente utilizado?

 

Toda a energia gerada no Rio Grande do Norte é interligada ao Sistema Nacional de Energia, que vai para a linha de transmissão e segue para ser consumida em qualquer lugar do país.

 

E o que precisa para deslanchar a produção dessas energias?

 

Precisa o governo fazer os leilões. O governo já sinalizou com dois leilões no primeiro semestre de 2015 e no segundo semestre tem a previsão de mais dois leilões. Projeto não falta, todo leilão cadastra de 15 a 20 vezes mais projeto que o governo compra.

 

Qual a vantagem de implantar energia eólica e solar em indústrias ou residências?

 

O que o Governo está pensando é fazer uma geração distribuída. Atualmente, para implantar um parque eólico, arrenda-se uma grande área para o parque. A ideia da geração distribuída é invés de alugar esse espaço, é alugar o telhado de uma casa, prédio comercial e instalar a placas solares, formando uma relação comercial do gerador, que vai implantar os painéis, com o dono do telhado, que vai receber a placa. É vantajoso, não tenha dúvida, principalmente com o aumento de energia que estamos tendo agora.

 

 

Parques eólicos mudam o cenário de municípios do interior do RN (Foto: ArsepRN/Divulgação)

Como o RN pode lucrar vendendo ventos e sol?

 

Existem duas fases, por exemplo, no projeto de energia eólica. A primeira é a fase de implantação, na qual o Estado recebe divisas e os municípios também pelo pagamento de ICMS e ISS, respectivamente, na compra de materiais, produtos e serviços, que estão sendo utilizados na execução da obra. A geração de riqueza, a distribuição de renda nos municípios que tem parque, é um benefício inegável. A cadeia é muito incentivada, pela isenção de ICMS para o segmento eólico. Depois dessa fase, vem à operação de 20 anos, e a quantidade de pessoas empregadas é relativamente pequena, em torno de 20 a 30 pessoas por parque eólico, sendo o ICMS pago onde a energia é consumida.

 

 

Algumas pessoas alegam que deve ter a cobrança de royalties para energia eólica. Eu acredito que ao se falar em royalties em energia eólica é a mesma coisa de falar em acabar com o setor no Rio Grande do Norte, porque o vento que passa no RN, porém tem no Ceará, Paraíba, Piauí. O RN é abençoado por ter uma das melhores jazidas de ventos do Brasil, mas não é única.

 

A participação do Estado seria em uma política de governo, melhorando as estradas, segurança no interior, logística, acelerar os processos de licenças ambientais dos parques, dando esse apoio aos empreendedores.

 

Qual a nossa posição em comparação a outros estados brasileiros?

 

O estado é visto como um estado que não tem capacidade de escoar sua energia, não temos linhas de transmissão. O RN só vai voltar a ter linha de transmissão quando essas obras complementares ficarem concluídas em 2017, e quando o Governo Federal tirar do papel o planejamento do final de 2014. Fazendo isso, o RN vai voltar a ter destaque no cenário nacional com projetos vitoriosos. Enquanto não tiver uma capacidade maior de transmissão, a nossa participação de leilões vai ser modesta.

 

O Governo está muito otimista com a aplicação desse planejamento. O RN vai ser um estado muito agraciado com o resultado dessa implantação, porque as jazidas de vento são muito boas, e se tiver a transmissão, poucos estados concorrem. Em 2019, o estado vai ter capacidade de escoar energia, pelo planejamento do Governo Federal, então tem que começar a trabalhar já.

 

Quais as expectativas para os próximos leilões?

 

Esse leilão do primeiro semestre, a participação do RN ainda será pequena. A partir do segundo semestre de 2015, com leilão A-5, teremos uma participação melhor. Em 2014, podíamos participar de leilão A-5 e não A-3, já em 2016, se o governo cumprir o planejado, vai ser melhor.

Energias renováveis superam crise e alavancam indústria no RN

Em tempos de aumento de custos e cenário de crise em todo o país, a indústria do Rio Grande do Norte ainda ver acender uma “luz no fim do túnel” com os investimentos na indústria de energias renováveis, em especial a eólica e para um futuro próximo a solar.

 

“A indústria do RN tem alguns setores que se destacam mesmo nesses momentos de crise. No nosso caso de energias, somos destaque, já temos hoje funcionando instalados 2 GW de energia eólica, mas ainda podemos crescer de 12 a 15 GW em pouco tempo”, avaliou o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern), Amaro Sales.

 

Ainda segundo presidente para manter a curva crescente é preciso que o Poder Público busque conceder incentivos para atração de novos investimentos. “O mais importante para o crescimento desse setor é ter um programa para atração de novas empresas se instalarem no RN. Não se faz indústria se não tiver energia, não se faz indústria se não houver incentivo fiscal, sem infraestrutura, incentivo à educação e competitividade”, afirmou Amaro.

Presidente da Fiern afirma que Estado ainda tem muito a crescer nas energias renováveis (Foto: Alberto Leandro)

 

 

“Ainda tem muito a crescer e temos que aproveitar o potencial que aqui existe para trazer o desenvolvimento ao nosso estado”, enfatizou o presidente da Fiern. Além de dispor de 300 dias de insolação, o Rio Grande do Norte conta com parcerias de importantes institutos de pesquisa da Alemanha, país referência na geração de energias renováveis. “Temos parceria do Sistema Indústria com o Instituto Fraunhofer, intercâmbio de profissionais e troca de experiências para o desenvolvimento do nosso potencial”, afirmou o presidente da Fiern, otimista com o futuro da matriz energética potiguar.

Estado prevê crescimento 15 vezes maior nos próximos cinco anos

Secretário destaca formas de incentivo para novas indústrias (Foto: Demis Roussos/AssecomRN)

O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Paulo Cordeiro também mostrou otimismo sobre o crescimento da matriz energética renovável no Rio Grande do Norte.

 

“O RN é autossuficiente quanto ao balanço produção/consumo de energia. É o único estado brasileiro que produz 100% da energia que consome de fontes renováveis. Em até cinco anos produzirá 15 vezes o seu consumo, ou até mais. Isso permite o desenvolvimento de programas atrativos voltados a indústrias, para ampliar a oferta de emprego, trazendo melhores perspectivas para as futuras gerações”, destacou o secretário.

 

A Sedec ainda prevê formas de incentivo para novas empresas se instalarem no Estado. “Estaremos fomentando e atraindo investimentos na geração de energias renováveis e instalação no RN de indústrias voltadas ao setor, como por exemplo, na produção de aerogeradores, torres, painéis fotovoltaicos”, afirmou Paulo Cordeiro, ressaltando formas de incentivo como o Proadi e Progás.

 

Para o futuro, o secretário reforça as condições naturais e estratégias do Estado. “O RN é o estado mais atrativo pelos fatores naturais com relação a eólicas. É isso que interessa. Estudamos um programa para a energia solar, que deveremos lançar no segundo semestre”, pontua Cordeiro.

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